Preços menores e margens mais apertadas devem marcar o novo ano agrícola do agronegócio brasileiro. O tom principal do 4º Boletim Visão Agro, realizado pela consultoria Agro do Itaú BBA, é de cautela, diferentemente do que ocorreu nos outros três anos anteriores. A publicação faz análise da safra 2023/2024 para todas as cadeias produtivas.
Após anos de preços elevados da grande maioria das commodities agrícolas, na esteira de uma combinação de choques climáticos e da eclosão da guerra na região do Mar Negro, o cenário para a próxima safra aponta, de maneira geral, para cotações bem mais acomodadas. Essa expectativa se ancora em um cenário de aumento de produção global, notadamente para soja e milho.
“Os reflexos dessas quedas das cotações deverão ser observados diretamente na rentabilidade operacional dos produtores rurais, que deverão seguir pressionadas na safra 2023/24 mesmo diante da desvalorização dos insumos, com destaque para as fortes reduções dos fertilizantes (NPK). Esse contexto somado a um ambiente de taxa de juros elevadas – embora seja antecipado alguma queda – deverá exigir cautela de produtores, tanto do ponto de vista de gestão de risco quanto na decisão de novos investimentos para não se colocar em uma posição de fragilidade”, destacou o superintendente de crédito para Agro, Guilherme Bellotti.
No caso da soja, carro-chefe da economia de Mato Grosso, o cenário é de preços menores no próximo ciclo do agronegócio do que a safra 2022/2023. A média de produtividade do Brasil para a safra 2022/23, de acordo com a Conab, foi de 58,5 sacas de soja por hectare, alta de 16% em relação à safra anterior, o que, junto ao aumento de 6% na área plantada, resultou em produção recorde. A grande produção, somada ao atraso na comercialização, culminou em prêmios negativos e menor rentabilidade para o produtor brasileiro.
Mesmo com os custos de produção que devem apresentar queda importante em relação à safra 2022/23, calcados na forte redução dos preços do adubo e no arrefecimento das cotações de alguns defensivos, o 4º boletim Visão Agro projeta redução nas margens dos produtores nesta safra que se inicia em 16 de setembro.
A margem do produtor que foi de R$ 2.575 por hectare, com margem de 35% do custo agrícola, agora deve reduzir para R$ 2.459. Valores bem distantes dos R$ 6.282 obtido na safra 2021/2022.
“Os preços em Chicago e o câmbio impactam diretamente a formação do preço ao produtor no Brasil. É prudente que os produtores se protejam de quedas adicionais com vistas a minimizar o risco de corrosão de margens. Especial atenção ao tema deve ser dada pelos players que possuam grandes compromissos a serem pagos na próxima safra. Nesse sentido, fazer o uso de ferramentas que contribuam com essa gestão de risco e possibilitem a fixação de piso de preços pode fazer muito sentido”, apontou o superintendente.